Nunca sei como começar. Nunca sei seleccionar as palavras que hei-de utilizar talvez porque me vêm tantas à cabeça que nem sou capaz de escolher as mais indicadas. Parecem todas básicas, usais, e incapazes de caracterizar o que quer que vá nesta cabeça desorientada.
Contudo, por vezes sinto uma vontade incrível de escrever. E escrevo, escrevo e escrevo. Quando termino, releio tudo o que escrevi, mas todo aquele conjunto de letras associadas umas às outras e separadas por pequenos espaços e sinais de pontuação, dão-me a sensação de que tudo o que escrevi não vale absolutamente nada. Ninguém lê, ninguém se interessa por o que possa estar lá escrito, até que eu chego à conclusão que o melhor a fazer é arrancar a página, amaçá-la e deitá-la ao lixo. Mais uma página repleta de emoções que tentei arrancar da minha vida. É certo que já perdi a conta das páginas que escrevi e deitei fora; é certo que penso que desabafar e de seguida desfazer o que escrevi, é uma boa solução para esquecer. Ou não.
Olho-me ao espelho todas as manhãs ao acordar, e sorrio com confiança. Saio de casa cheia de energia e vontade de estar com as pessoas que me são mais queridas, e viver mais um outro dia. Passo o dia inteiro a rir às gargalhadas e a animar quem está mais em baixo. Adoro ver um sorriso puro e ouvir um “obrigada”. Isso preenche-me e faz-me esquecer as minhas infelicidades, até ao momento em que chega a hora de ir dormir. Apesar de completamente exausta, todas as noites tenho de ir ver-te. Quando não tenho oportunidade de ir ver a tua fotografia bem guardada numa pasta do telemóvel, o meu cérebro encarrega-se de me fazer ver-te. Como? Através do sonho. Os sonhos são sempre distintos todos os dias, mas todos acabam da mesma forma. Quando dou por mim, quero parar de sonhar, e acordar para a realidade, mas o problema reside no facto do meu coração não me permitir ver a dura realidade. Aí instala-se a constante luta entre a racionalidade e os sentimentos. Lutam, lutam e lutam. Desafiam-se, tentam vencer-se, cada um puxando para o seu lado: ESQUECER - TENTAR. Não sou capaz de me impor e manter a ordem entre estes dois lutadores, pois são ambos implacáveis e demasiado orgulhosos para dar o braço a torcer. Controlo as lágrimas que se estão a formar, respiro fundo, e o cansaço permite-me cair num sono profundo que me torna incapaz de sonhar.
Porém, no dia seguinte o que aconteceu na noite passada continua a amarelar-me o sorriso. E porquê? Primeiro porque o meu sorriso não é um sorriso puro, completamente natural e instantâneo, mas sim um sorriso forçado com a finalidade de tentar convencer-me a mim mesma que está tudo bem; segundo porque só tu é que consegues fazer sorrir o meu coração, de modo a este transmitir isso ao meu olhar e aos meus lábios. Não consigo sorrir genuinamente, com aquela luminosidade nos olhos e com aquele brilho que só tu tens o poder de provocar em mim.
(…)
Amanhã vou voltar a acordar, a ver-me ao espelho e a sorrir. No dia seguinte, igual. (…) E assim sucessivamente até chegares até mim, me olhares com aquele jeito que fala por si, e todo o meu brilho regressar e se unir ao teu.


